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Editora publica mangá pirata - Entrevista com o editor.

Eric Bernardo da Silva, da editora Ao Leitor, com Carinho - Raquel Franco/Folhapress

Se você acompanha o Copyright BR, já deve ter visto a polêmica: uma editora brasileira acaba de lançar “Urusei Yatsura” sem autorização oficial, na tentativa de “furar a bolha editorial” do país. Agora, tivemos a chance única de conversar com Eric Bernardo da Silva, o editor-pirata, e trazemos aqui as perguntas que desafiam os limites entre paixão e lei.


Escolha do Título

O que te motivou a escolher justamente Urusei Yatsura como o primeiro título?

Urusei Yatsura é especial para mim porque remete a bons momentos dos anos 90 quando eu assisti ao anime pela primeira vez em VHS. Na época, tinha uns fansubers que faziam legendas de animes em VHS e vendiam por telefone. Tinha um catálogo de títulos muito legal, dentre eles, Urusei Yatsura. Conheci Urusei antes de Ranma.

Você mencionou que queria chamar a atenção da Shogakukan. Qual seria o projeto ideal que gostaria de apresentar a eles?

Isso é confidencial. Mas seria bastante benéfico para o Brasil e para o Japão se desse certo.

Riscos Legais

Por que optar por um título sem licenciamento, sabendo dos riscos legais envolvidos?

A ideia inicial era licenciar Urusei ou outro título menor. Comecei a procurar contatos aqui no Brasil que pudessem me ajudar com isso, pois meu objetivo é ter uma editora 100% correta, mas não obtive nenhum suporte. Então tentei buscar um agente de licenciamento fora do Brasil que também se mostrou improdutivo. No fim, entrei em contato com a Shogakukan por um campo de contato do próprio site deles, mas nunca obtive reposta.

Você consultou algum advogado antes de tomar essa decisão? Como lida com o risco de ações legais?

Não consultei. Na verdade, não conheço nenhum advogado. Não me preocupo com os riscos legais, mesmo sabendo que eles existem.

Caso a Shogakukan entre com uma ação, qual seria seu plano para os compradores das edições já vendidas?

Vou concluir a coleção de uma forma ou de outra com ou sem licença. Devo isso a mim e aos apoiadores que estão acreditando no projeto.

Processo e Produção

Como foi o processo de adquirir os volumes originais, digitalizar, traduzir e preparar para a publicação?

A aquisição dos volumes originais foi simples porque só tive que comprá-los e esperar chegar. Escanear e digitalizar foi um pouco mais complicado porque eu não tinha conhecimento apropriado de Photoshop para fazer um trabalho profissional. Então tive que aprender um pouco do aplicativo e pesquisar no Youtube técnicas de digitalização até chegar ao resultado que cheguei, resultado esse que considero quase perfeito.
Traduzir foi relativamente fácil porque conheço uma pessoa fluente em japonês e só tive que propor a ela que traduzisse para mim após combinarmos um valor pelo seu trabalho.
Depois de tudo traduzido e dos arquivos digitais prontos, fiz o letreiramento, imprimi e mandei para uma revisora para garantir que o português estava correto. Depois disso enviei os arquivos para a gráfica montar o livro

Qual foi o maior desafio durante esses sete meses de trabalho no projeto?

Aprender a fazer tudo, pois eu não sabia quase nada. Perdia muito tempo resolvendo problemas que apareciam e eu não estava preparado para resolvê-los com o conhecimento que tinha.

Futuro e Licenciamento

Você acredita que esse tipo de iniciativa possa prejudicar o mercado formal de mangás no Brasil ou acha que abre portas para mais diálogo?

Com relação ao Japão, eu estou apostando que abriria mais as portas para novas editoras ou editores independentes possibilitando mais diálogo e mais publicações no Brasil. Com relação as editoras brasileiras, para eles isso pode soar negativo porque parece uma ameaça a elas que tem uma mentalidade de escassez.

Caso a Shogakukan entre em contato, você estaria disposto a negociar os direitos para tornar essa publicação oficial?

Eu conto com isso!.

Planeja lançar outras obras seguindo o mesmo modelo ou pretende buscar licenciamento para futuros projetos?

Sempre vou procurar o caminho mais correto possível, que é o do licenciamento. Porém, não quero mais ver tantas obras inéditas no Brasil por conta das nossas editoras não as considerarem comerciais o bastante para serem publicadas. Caso os japoneses continuem a me ignorar no caso de tentativa de contato, vou fazer como fiz com Urusei Yatsura. Eles podem entrar com uma ação judicial e não ganhar nada ou podem olhar para mim para procurar entender porque estou fazendo isso e dialogar comigo.

Pela Lei 9.610/1998, toda reprodução, tradução ou edição de obra intelectual depende de autorização prévia e expressa do titular dos direitos autorais. A publicação sem licença pode resultar em apreensão dos exemplares, indenizações por perdas e danos e até sanções criminais previstas no artigo 184 do Código Penal. Além disso, a editora arrisca-se a ter bloqueados canais de distribuição e sofrer ações judiciais que podem inviabilizar financeiramente todo o projeto, afetando não só o responsável direto, mas também os leitores que adquirirem o material irregular.

E você, o que pensa sobre essa iniciativa de “furar a bolha” mesmo assumindo riscos legais?

Vale a pena correr essa aventura em nome de clássicos inéditos no Brasil, ou é um prejulgamento perigoso para o mercado editorial?


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